segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O professor no combate às drogas

Capacitar os educadores em relação à problemática das drogas, unificar as ações de combate à drogadição e torná-las uma política de Estado. É o que defende o professor José Vicente Lima Robaina, autor do livro Drogas – O Papel do Educador na Prevenção ao Uso (Editora Mediação), escrito a partir de sua tese de dou­torado. Robaina tem 48 anos, nasceu em Passo Fundo (RS) e começou a trabalhar com o tema depois de enfrentar um problema em família. É professor do curso de Química e do Programa de Pós-graduação em Ciências e Matemática pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e presta assessoria sobre o assunto para escolas do Rio Grande do Sul. Veja os principais trechos de sua entrevista à Gazeta do Povo.

As drogas estão em evidência há décadas, mas apenas há relativamente pouco tempo ouvimos falar sobre essa problemática nas escolas. É possível precisar quando a questão chegou à escola?

Há uns 10 ou 20 anos, mas o problema está mais evidente agora. A gurizada está muito agressiva, começando a usar drogas cada vez mais cedo. Isso está causando problemas que interferem no processo de ensino e aprendizagem. Antigamente as pessoas entravam nesse universo mais tarde, hoje temos usuários com 4 ou 5 anos de idade. Imagine como esses alunos vão estar quando estiveram na quarta, na quinta série. O uso e o abuso geram violência.

O senhor fala sobre a necessidade de municipalizar as ações antidrogas. Como se faz isso em educação, em que estados e municípíos têm atribuições diferentes?

Falo em relação às políticas. Existe uma polícia nacional. A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), do Ministério da Justiça, está desenvolvendo políticas e ações para tentar diminuir o problema. Só que a grande maioria das prefeituras não tem políticas de prevenção. É necessária a adaptação dessas políticas de amplitude nacional para os níveis estadual e municipal. O objetivo é que cada cidade possa desenvolver políticas e unir essas ações. Não adianta fazer ações isoladas. Com o advento do crack, deputados estaduais do Rio Grande do Sul trataram do tema em diferentes comissões. No fim do ano, todas as comissões lançaram cartilhas e folhetos. Mas todas essas ações estavam desarticuladas, cada um trabalhou dentro da sua lógica. Precisamos unir essas ideias, desenvolver uma política. Atitudes isoladas não vão surtir efeito.

Muitos usuários tendem a desprezar alertas. Como romper essa barreira?

Fazendo um trabalho na periferia de Porto Alegre, uma pessoa citou um caso: o aluno ganha em torno de R$ 1 mil por mês com o tráfico, como dizer para ele parar e procurar um emprego, onde vai ganhar R$ 400 por mês? Ela achava que não teria argumentos suficientes. Primeiro é preciso enfatizar os problemas e as consequências da droga: se hoje ele ganha R$ 1 mil, amanhã poderá não ganhar nada. Ele poderá estar preso ou morto. É mais garantido trabalhar honestamente e ganhar pouco. É difícil convencer os adolescentes, mas, quando há formação, há argumentos.

A impressão é que hoje há apenas ações isoladas. Na sua opinião, falta uma política de Estado em relação a essa formação?

Acho que sim. Se os governos estaduais e municipais estão preo­­cupados, deveriam capacitar seus técnicos. A prevenção é uma questão de educação, esse é o desafio das políticas públicas. Se a pessoa já está dentro do processo, a prevenção falhou, é hora da ação da saúde pública. Outro problema é que tem pouco trabalho de reinserção. Temos muito trabalho de tratamento, pouco de prevenção e nenhum de reinserção.

Na escola, não há o risco de usuários serem discriminados pelos colegas, o que poderia agravar o problema?

Esse risco existe. Se o professor tem uma formação e sabe como trabalhar, evita que os colegas façam esse tipo de isolamento ou exponham o colega. O professor vai oferecer ajuda. Se o aluno sentir confiança, vai falar. Se chegar queimando, o aluno não vai ter confiança e vai querer viver longe do professor. Isso muitas vezes falta para o professor. A gente ouve até casos de agressão aos professores.

Em que medida o desconhecimento dos educadores sobre o tema é um problema?

Muitos professores não sabem nem identificar quando há um problema com drogas. Às vezes o aluno está com olhos vermelhos, pupilas dilatadas ou agressivo, mas o professor não sabe identificar. A gente vê muito isso.

Seu livro cita três projetos desenvolvidos em escolas. Há linhas gerais, ou as particularidades pesam mais?

Tem linhas gerais, mas deve-se levar em conta as particularidades. Tem que ver o que tem em volta da escola, se tem tráfico. É um trabalho integrado com a comunidade. Em um dos casos analisados tinha tráfico dentro e fora da escola, os professores e a direção chamavam a polícia diariamente – e local de polícia não é na escola. A primeira evidência é que os professores não tinham formação para tratar dessa situação. Uns 30% dos professores começaram no projeto, os outros foram aderindo. A partir disso começou a se pensar em ações com professores de diferentes disciplinas. O trabalho se tornou uma proposta interdisciplinar. Na escola tinha um fumódromo que os professores utilizavam, com o passar do tempo essa sala foi extinta por pressão dos alunos. De maneira geral, vejo que a drogadição passa por uma questão de educação, de formação na própria casa. Os pais têm remédios, sabemos de relatos de crianças que começaram assim. É assim também com a bebida, o pai toma um copo de uísque e a criança, vendo isso, também pode vir a ter o hábito de beber. Essas situações são levadas para a escola.

Há alguma estratégia que deve ser evitada?

Sou contra palestras para alunos, isso não funciona. A pessoa começa a falar sobre as sensações causadas pelas drogas e o adolescente pensa “vou experimentar pra ver se dá isso mesmo”. O tiro sai pela culatra. Um ex-dependente químico que saiu de uma clínica em Porto Alegre foi dar palestras em escolas. Ele dizia para os alunos que tinha sido usuário e que tinha sobrevivido. É melhor trabalhar com o professor.
Equipe A.R.C.A.
Capacitação, Prevenção, Palestras, Capacitação, Tratamentoe Acompanhamento Terapeutico em Dependência Química - 12 passos
Tadeu Assis - Coordenador
Tel.: (22) 2643.9399 (22) 9914-3450

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